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8 de Março: Conheça a jornalista de São Carlos que é mãe de dois homens e tem muita coragem para enfrentar os desafios da vida

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Por Renato Chimirri

08/03/2019

 

Stela Martins é uma jornalista experiente, além de ser uma pessoa extremamente divertida e ter muita história para contar sobre sua vida. Neste dia 8 de Março que é dedicado as mulheres em todo o planeta resolvemos traçar um breve perfil da Stella, uma pessoa simples, espiritualizada e também com um olhar importante voltado para o futuro. Acompanhe os principais trechos:

 

Stela, se apresente ao público. Quantos anos você tem, onde você nasceu, em quais veículos trabalhou?

Stela Martins: Meu nome é Stella Martins, sou jornalista, tenho 54 anos, nasci em São Paulo (SP), mas com três anos vim para São Carlos. Morei aqui praticamente toda a minha vida e sai apenas para fazer jornalismo em Ribeirão Preto e depois fui para São Paulo onde trabalhei por 8 anos. Nesse período de 32 anos de formada atuei principalmente em televisão nas seguintes emissoras: EPTV de Ribeirão Preto (quando ainda era TV Ribeirão), EPTV Central por duas vezes, na TV Bandeirantes, na TV Record na capital e em Ribeirão Preto e também na TV Cultura. Também trabalhei num curto período no jornal Primeira Página, na A FOLHA, além disso atuei em Rádio em Ribeirão Preto e também em SP durante um curto período.

 

Hoje, diante de toda essa realidade dura do mercado do trabalho, como é sua experiência de mulher e autônoma em sua área no interior de SP?

Stela Martins: Hoje sou mãe-solteira de dois rapazes e trabalhar sendo mulher no mercado de comunicação não foi difícil enquanto morei em São Paulo, lá não há muita discriminação, alguma seleção com relação a cargos de chefia, mas não é muito comum também. Senti realmente esse peso quando voltei para o interior do Estado. Aqui já é mais complicado, é difícil se inserir no mercado de comunicação como mulher e ter alguma relevância, a mulher pode ser alguma coisa mais simples, mas ter relevância é mais complicado. É preciso esperar, ter muita paciência e se mostrar sempre melhor que todos os outros colegas para conseguir uma determinada posição. Mas no meu entendimento, viver no interior é muito melhor que na capital, por isso vamos enfrentando esses desafios.

Quando você se apresenta a um novo cliente, ele já estranha você ser uma mulher e segundo a sua idade. Na verdade, aos 22 anos a pessoa lhe olha de um jeito no mercado de trabalho, mas quando você passou dos 50, a pessoa lhe encara com uma pontinha de preocupação pensando se você dará conta de trabalhar. Estou com 54 e não penso em parar de trabalhar, dou conta do serviço muito bem!

 

Na sua visão, ser jornalista ainda compensa?

Stela Martins: Vejo a profissão muito diferente de quando me formei, hoje as plataformas de comunicação são completamente diferentes daquelas disponíveis no tempo em que estava na faculdade, mas acho que hoje é mais divertido trabalhar como jornalista. Você tem a possibilidade de ser diferente e naquela época isso não existia. Só vejo com preocupação o número de jornalistas que as universidades tem colocado no mercado, afinal são muitos jornalistas para poucos veículos de comunicação, mesmo que tenhamos sites, blogs, vídeoblogs, you tube. Hoje, os jornalistas tem uma necessidade de atualização constante de adequarmos nosso trabalho e nosso vocabulário às necessidades da profissão, de confirmar a informação, de saber se  determinada fonte é confiável ou não, se é possível acreditar na história que circula nas redes sociais, como devemos confirmar essas informações. Essas são coisas que teremos que aprender, pois quando não havia televisão e existia apenas o rádio o pessoal teve que se adaptar também, o mundo está sempre mudando e tendo novas exigências e os profissionais necessitam se adequar a elas, creio que isso ocorre com os jornalistas, uma nova adequação.

 

 

A cidade de São Carlos ainda é palco de atitudes machistas?

Stela Martins: Infelizmente, São Carlos é uma cidade machista. Lamentavelmente essa não é uma característica só dela, acredito que os grandes centros tem que se render a menos ao preconceito e mais a eficiência. Em São Carlos temos problemas com o racismo, discriminação com a mulher e um problema seríssimo nesse momento com relação a idade. A experiência nos proporciona conhecimentos que com 20 anos eu jamais teria, porque foi o tempo que me deu essas informações, paciência e calma para conversar. Portanto, ter um funcionário com mais de 50 e contar com alguém que tem mais consciência do que está fazendo pelo tempo que ele tem de vida e trabalho. Porém, em São Carlos convivemos com esse peso que é o preconceito.

 

Como é ser mãe de dois homens e lutar para que eles não se tornem machistas e sim respeitadores e apoiadores dos direitos das mulheres?

Stela Martins: Meus dois filhos são muito tranquilos com relação a isso, no que diz respeito ao relacionamento com a mulher no campo profissional e com as pessoas que encontram. Eles cresceram com uma mãe que os sustentou sozinha e também numa família onde as mulheres são maioria, pois tenho mais duas irmãs, primas e eles conviveram muito com todas nós e sempre puderam notar o esforço que fizemos para sustenta-los e dar alguma possibilidade de conforto e especialmente de educação. Tenho certeza que eles aprenderam vendo as consequências do preconceito e da discriminação que já sofri, assim como as mulheres de nossa convivência, e a mesma situação que ocorre com negros e homossexuais. Por isso, eles sabem porque não devem agir assim. Meus filhos tem a consciência do que esse tipo de comportamento preconceituoso pode causar e causa, tenho certeza que são homens de bem e não discriminam por causa de sexo, cor, religião, aprenderam a tratar a diferença com tranquilidade e respeito.

 

Qual foi a notícia mais triste que você teve que publicar em sua vida?

Stela Martins: A notícia mais triste que dei foi a primeira cobertura que fiz de enchente em São Paulo quando era repórter na TV Bandeirantes. Nunca tinha acompanhado um caso assim na capital, havia me mudado há poucos meses e fui para a região da avenida Aricanduva e lá tive que entrevistar as pessoas que tinham perdido tudo porque o rio havia subido mais de um metro, não dava para andar na rua porque era só agua, toda a equipe passou por essa situação. Tive que entrevistar um pai que perdeu o filho eletrocutado, pois o moço foi ajudar duas senhoras que estavam presas dentro de casa. O rapaz tirou essas duas mulheres e quando ele saiu, acabou encostando na parede, lá havia um fio e o moço levou um choque e morreu eletrocutado. Ali eu resolvi que não seria mais repórter de rua, porque foi triste, tive que escutar colegas de trabalho apavorados, presos dentro de carros da emissora porque estavam em enchentes nas marginais. Acompanhar esse sofrimento foi marcante e me emociona até hoje e por isso voltei para a pauta, ao trabalho dentro da redação.

 

Você já sentiu preconceito dentro de uma redação?

Stela Martins: O preconceito que já senti em redação foi o de saber se uma mulher poderia ser chefe, porque já ocupei esse posto mais de uma vez. Mas quando as pessoas percebem que você está dando uma orientação não porque está nessa posição, mas sim porque conhece o que está fazendo e tem respaldo técnico para falar, elas passam a lhe respeitar com tranquilidade. Porém, o primeiro impacto é de desconfiança, querem saber se você conseguirá mandar quando está com Tensão Pré-Menstrual, por exemplo. Há muito preconceito com a mulher porque se ficamos irritadas porque qualquer problema, atribuem o fato à TPM. Isso é muito chato!

 

É momento de São Carlos ter uma prefeita mulher?

Stela Martins: Acho que seria o momento de São Carlos ter uma mulher como prefeita se surgir uma com as características, conhecimento e capacidade para administrar uma cidade da forma como ela necessita ser. Não acho que devamos eleger uma mulher porque São Carlos nunca teve uma como prefeita. Temos que escolher a pessoa pela capacidade que ela tem e não por seu sexo.

 

Qual a mensagem que você deixa para as leitoras do site?

Stela Martins: O que posso dizer para as mulheres é que é muito bom ser mulher, ter filhos e digo para aquelas que preferiram não ter filhos que também deve ser muito bom! Devemos viver bem do jeito que somos, temos que ser felizes nas condições que temos hoje, não me arrependo de nada do que fiz, de ter casado, sido mãe ou separado. Sou uma pessoa muito feliz. Espero que as mulheres tomem suas decisões baseadas naquilo que elas querem fazer e que jamais tenham medo de romper uma relação que é nociva ou agressiva porque é muito triste saber que o índice de mulheres mortas por seus ex ou atuais companheiros subiram no Brasil. Não vejo motivo nenhum para comemorar em nosso país. Estamos morrendo no Brasil porque os homens que se acham mais fortes do que nós e que podem nos matar e isso é muito triste.

 

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